terça-feira, 12 de janeiro de 2016

Trail da Filigrana 25 km - Dureza na lama


Por: Helder Rocha


O dia começa com alerta laranja após uma noite de intensa chuva. Consultei a página de prova para ver se havia novidades e estava tudo ok. Alguns comentários mais pessimistas, ou porventura mais prudentes aconselhavam a adiar a prova. Tarefa difícil para a organização que, a meu ver agiu de forma correcta ao não adiar a prova.

Quando nos inscrevemos numa prova que se realiza em pleno inverno temos de estar conscientes que o mau tempo é uma forte possibilidade. Cabe a cada um a decisão da atitude a tomar, quer em participar ou não, quer na forma como vai encarar a corrida, com maior ou menor prudência.

Estavam inscritos cerca de 1300 atletas, distribuídos pelas diferentes provas, 25 km (+/- 250), 15 km (+/- 800) e os restantes na caminhada.

Próximo das 9:00H efectuo um pequeno aquecimento para combater o frio que estava a fazer-se sentir na altura.



Entretanto somos informados pela organização que o início da prova sofrerá um atraso de 30 minutos porque, como tinha chovido muito de noite uma parte do percurso alagou e estavam a marcar um trajecto alternativo. Noticia nada agradável para quem estava à espera debaixo de um temporal. Toca a recolher e aproveito para tomar um café.

Pelas 9:30 vamos para a zona de partida, e apesar da chuva e frio o ambiente era de diversão.





Começa a chover copiosamente e passado 10 minutos é dada a partida.



Começamos por efectuar uma pequena volta ao jardim e de seguida passámos outra vez pela zona da meta, onde houve um duro :) sprint pela vitória.





Entrámos depois nos trilhos que nos levariam até à estrada D. Miguel. O ritmo estava bastante elevado e tento encontrar um andamento que me fosse mais favorável porque sabia que o percurso era duro, com cerca de 1000 D+ e outro tanto de D- e com esta chuva o piso estaria cheio de água, lama e sobretudo muito escorregadio.

Percurso muito acidentado e técnico, mesmo como eu gosto, cheio de cursos de água e com belas cascatas


que tinham que ser atravessadas com todo o cuidado para não sermos arrastados pelas correntes!


Até cerca do km 8 o percurso era igual nas duas distâncias, sempre com descidas íngremes e subidas relativamente curtas mas muito acentuadas e que, associado ao piso escorregadio, aumentava muito o grau de dificuldade.

Chegados à zona de separação dos 15km com os de 25km, entramos numa zona de trilhos muito divertidos e que até me fizeram esquecer do que ainda estava para vir... 

Quando analisei a altimetria do percurso, por volta do km 12 havia uma grande subida. Mas como a organização fez algumas alterações de última hora, passei pelo km 12 sem vislumbrar a dita. Mais um km de trilhos e nada... fixe pensei, devem ter abdicado da subida devido ao mau tempo. Entro numa curva e olho à esquerda e minha nossa senhora o que é isto???

650 metros de subida cheia de calhaus e pedras soltas com cerca de 33% de declive...passar dos 50 metros de altitude para 270??? 

Demorei 16 longos minutos a ultrapassar esta parede. Estava um frio intenso lá em cima, bebo um pouco de isotónico e sigo para a descida, num piso muito irregular e escorregadio, com cerca de 1 km apenas travada por pequenas subidas íngremes, daquelas que dão cabo das pernas!   

Chegado à ponte que atravessa o rio Ferreira, praticamente inundada, é altura da junção do trail curto e longo no mesmo percurso. Passo pelo último abastecimento que estava repleto com atletas do trail curto e antes de entrar na subida está uma placa a informar que faltam 5 km para a meta. 

Esta parte do percurso foi, como sempre nestas situações, complicada de ultrapassar porque, em trilhos tão estreitos e técnicos, passar por atletas que vão com um ritmo menor torna-se cansativo. Chego a uma altura em que opto também por caminhar um pouco, aproveitando para descansar e recuperar o fôlego para a parte final.

Chegado à ETAR, que estava inundada, é altura de tomar um banho de barro e lama, com água gelada pela cintura, numa luta para progredir uns 50 metros para chegar ao outro lado.


Faltavam cerca de 3 km para a meta e encontro uma subida com 1 km e cerca de 20% de inclinação. 7 minutos depois este km virou passado e chego a uma zona enlameada e com uma pequena subida com umas cordas. Vejo muitos atletas numa luta entre a lama, a subida e as cordas e aguardo pela minha vez, ansioso de me agarrar às ditas e trepar por aquele monte de lama.

O simpático Alexandre da Foto Conquilha estava lá para eternizar estes momentos para a prosperidade!


  
A partir daqui era praticamente sempre a descer até à meta. O trajecto estava com muitos atletas do trail curto, tento correr onde conseguir e o máximo que puder até chegar aos últimos 500 metros que são a subir e num último esforço, debaixo de um dilúvio entro na recta da meta, onde está a minha querida mulher aos pulos a gritar parabéns, és o maior ;)) (isto fui eu que inventei;)) e termino ao fim de 2:29:35.

11ª lugar na geral e 5º lugar no escalão sénior M.

Os meus colegas da equipa Douroconta Trail Team, que participaram no trail curto conseguiram um honroso 3º lugar por equipas e, mais uma vez, subimos ao pódio para receber o merecido troféu.



Com o frio que estava e com todo o desgaste provocado pela prova era altura do necessário fast recovery para potenciar a necessária recuperação muscular!


Parabéns!!!


Quanto à organização penso que pecou na ausência de segurança em algumas partes do percurso que com estas chuvadas estavam realmente perigosas. Para muitos atletas, atravessar a 1ª cascata com aquela corrente não iria ser fácil sem ajuda, por ex. Sei que no regulamento informa que devemos estar preparados para enfrentar condições adversas, mas na minha opinião mais vale prevenir que remediar e, atendendo que o trail está cada vez mais na moda, a presença de novos atletas, que experimentam pela primeira vez o trail é uma constante, são situações a reflectir e corrigir numa próxima, assim como melhorar a qualidade dos abastecimentos. Presenciei muitos atletas, que chegaram mais tarde, a dirigirem-se ao abastecimento final e encontrar apenas as mesas vazias...

Um ponto forte foi a simpatia de toda a comitiva da organização, desde dirigentes a voluntários foram sempre muito prestáveis.


O percurso escolhido foi fantástico e com a chuva ainda ficou mais bonito, com cascatas e riachos cheios de água o que aumentou a espectacularidade da prova.


Termino relembrando que Gondomar foi eleita a cidade europeia do desporto 2017!




Boas corridas!!!

Helder Rocha






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